Capítulo oitavo: O adolescente e o namoro


Na fase da adolescência, a atração sexual é portadora de alta carga de magnetismo. Surge,
inesperadamente, a necessidade de intercâmbio afetivo, que o jovem ainda não sabe definir.

Os interesses infantis são superados e as aspirações acalentadas até então desaparecem, a fim de cederem lugar a outras motivações, normalmente através do relacionamento interpessoal. Os hormônios, amadurecendo e produzindo as alterações orgânicas, também trabalham no psiquismo, desenvolvendo aptidões e anseios que antes não existiam.

Nesse momento, os adolescentes olham-se surpresos, observam as modificações externas e
descobrem anseios a que não estavam acostumados. São tomados de constrangimento numa primeira fase, depois, de inquietação, por fim, de certa audácia, iniciando-se as experiências dos namoros.

Referimo-nos ao processo natural, sem as precipitações propostas pelas insinuações,
provocações e licenças morais de toda ordem que assolam o mundo juvenil, conspirando contra a sua realização interior.

Estimulados por essa falsa liberdade, mentalmente alertados antes de experimentarem as
legítimas expressões do sentimento, atiram-se na desabalada busca do sexo, sem qualquer
compromisso com a emoção, transtornando-se e perdendo a linha do desenvolvimento normal, passo a passo, corpo e mente.

Prematuramente amadurecidos, perdem o controle da responsabilidade e passam a agir
como autômatos, vendo, no parceiro, apenas um objeto de uso momentâneo, que deve ser
abandonado após o conúbio, a fim de partir na busca de nova companhia, para atender a sede de variação promíscua e alienadora.

O namoro é uma necessidade psicológica, parte importante do desenvolvimento da
personalidade e da aprendizagem afetiva dos jovens, porquanto, na amizade pura e simples são identificados valores e descobertos interesses mais profundos, que irão cimentar a segurança psicológica quando no enfrentamento das responsabilidades futuras.

Trata-se de um período de aproximação pessoal, de intercâmbio emocional através de
diálogos ricos de idealismos, de promessas — que nem sempre se cumprem, mas que fazem parte do jogo afetivo — e sonhos, quando a beleza juvenil se inspira e produz.

As artes, em geral, a literatura, a poesia, a estética descobriram na afetividade juvenil suas
verdadeiras musas, que passaram a contribuir em favor do enriquecimento da vida, através das lentes róseas dos enamorados. Todo um mundo dourado e azul, trabalhado nas estrelas e no luar, no perfume das flores e nos favônios dos entardeceres, aparece quando os jovens se encontram e despertam intimamente para a afetividade.

O recato, a ternura, a esperança, o carinho e o encantamento constituem as marcas
essenciais desses encontros abençoados pela vida. As dificuldades parecem destituídas de
significado e os problemas são teoricamente de soluções muito fáceis, convidando à luta com que se estruturam para os investimentos mais pesados do futuro.

O desconhecimento do corpo e a inexperiência da sua utilização, nesse período, cedem
lugar a um descobrimento digno, compensador, que predispõe aos relacionamentos tranquilos, estimulantes.

Igualmente nesse curso do namoro se identificam as diferenças de interesse, de comportamento psicológico, de atração sexual e moral, cultural e afetiva.

O adolescente, às vezes, encantador, que desperta sensualidade nos outros, no convívio
pode apresentar-se frívolo, vazio de idealismo, desprovido de beleza, que são requisitos de
sustentação dos relacionamentos, e logo desaparece a atração, que não passava de estímulo sexual sem maior significado.

Quando o namoro derrapa em relacionamento do sexo, por curiosidade e precipitação, sem
a necessária maturidade psicológica nem a conveniente preparação emocional, produz frustração, assinalando o ato com futuras coarctações, que passam a criar conflitos e produzir fugas, gerando no mundo mental dos parceiros receios injustificáveis ou ressentimentos prejudiciais.

Não raro, esses choques levam a práticas indevidas e preferências mórbidas, que se
transformam em patologias inquietantes na área do comportamento sexual.

É natural que assim suceda, porque o sexo é departamento divino da organização física, a
serviço da vida e da renovação emocional da criatura, não podendo ser usado indiscriminadamente por capricho ou por mecanismos de afirmação da polaridade biológica de cada qual.

O indivíduo tem necessidade de exercer a função sexual, como a tem de alimentar-se para
viver. Não obstante essa função, porque reprodutora, traz antecedentes profundos fixados nos
painéis do Espírito, arquivados no inconsciente, que não interpretados corretamente se
encarregam de levá-lo a transtornos psicóticos significativos.

O período do namoro, portanto, é preparatório, a fim de predispor os adolescentes ao
conhecimento das suas funções orgânicas, que podem ser bem direcionadas e administradas sem vilania, mantendo o alto padrão de consciência em relação ao seu uso.

As carícias se encarregam de entretecer compensações afetivas e preencher lacunas do
sentimento, traduzindo a necessidade do companheirismo, da conversação, da troca de opiniões, do intercâmbio de aspirações.

O mundo começa também a ser descoberto e programas são delineados, nesse comenos
afetuoso, tendo em vista a possibilidade de estar próximo do ser querido e com ele compartir
dores e repartir alegrias.

As dificuldades e conflitos íntimos, face à aproximação afetiva., são debatidos e buscam-se
fórmulas para superá-los e resolvê-los.

Um auxilia o outro e abrem-se os corações, pedindo auxílio recíproco.

Quando isso não ocorre, há todo um jogo de mentiras e aparências que não correspondem à
realidade, e cada um dos parceiros pretende demonstrar experiências que não consolidou, e que se encontram na imaginação, como decorrência de informações incorretas ou de usos
inadequados, que exalta, tornando-se agressivo e primário, sem a preocupação de causar ou não trauma no parceiro.

Merece considerar, também, que nessa fase, o jovem desperta para as suas faculdades
paranormais, suas inseguranças e ansiedades estão em desordem, propiciando, pela natural lei de causa e efeito, a aproximação de antigos comparsas, que procedem de reencarnações passadas e agora se acercam para darem prosseguimento a infelizes obsessões, particularmente na área sexual.

Grande número de adversários espirituais é constituído de afetos abandonados, traídos,
magoados, infelicitados, que não souberam superar o drama e retornam esfaimados de paixões negativas, buscando aqueles que lhes causaram danos, a fim de se desforçarem, investindo, desse modo, furiosos e cruéis, contra quem lhes teria prejudicado.

Esse é um capítulo muito delicado, que não pode ser deixado à margem, merecendo análise
especial.

Assim, o namoro preenche a lacuna da imaturidade e propicia renovação psicológica e
conforto físico, sem ardência de paixão, nem frustração amorosa antes do tempo.