A plenitude da vida, na fase da adolescência, estua e
exterioriza-se, deixando que todos os conteúdos arquivados no inconsciente do
ser passem a revelar-se, em forma de tendências, aptidões, anseios e tentativas
de realização.
Nem sempre esse despertar é tranquilo, podendo, às vezes,
ser uma irrupção vulcânica de energias retidas que estouram, produzindo danos.
Noutras ocasiões pode expressar-se como sofrimento íntimo, caracterizado por
fobias de aparência inexplicável, mas que procedem dos registros
perispirituais, mergulhados no inconsciente, que repontam como conflitos, consciência
de culpa, pudor exacerbado, misticismo, em mecanismos bem elaborados de fuga da
realidade.
Reencarnando-se, para reparar os erros e edificar o bem em
si mesmo, o espírito atinge a adolescência orgânica, vivenciando o transformar
de energias e hormônios sutis quão poderosos, que o despertam para as
manifestações do sexo, mas também para as aspirações idealistas, desenvolvendo
a busca da própria identidade.
Carregando a soma das personalidades vividas em outras
reencarnações, a sua identificação com o mundo atual demanda tempo e
amadurecimento, mediante os quais pode aquilatar quem realmente é e o que
legitimamente deseja.
Não tendo o discernimento ainda para eleger o que é melhor,
quase sempre se entrega à busca do mais imediato, porque mais simples,
procurando acomodar-se às manifestações fisiológicas do comer, dormir, praticar
sexo, vencer o tempo sem grande esforço. Trata-se de um atavismo pernicioso,
que deve ser melhor direcionado, a fim de que seja descoberta a finalidade da
existência e como alcançar esse patamar que o aguarda.
Se o lar oferece segurança afetiva e compreensão, o
adolescente tem facilidade para selecionar os valores e aceitar aqueles que lhe
são mais favoráveis para o progresso.
Todavia, se o grupo familiar é traumatizante, foge para
comportamentos oportunistas, que parecem afugentar as mágoas e libertá-lo do
cárcere doméstico.
A influência dos pais é decisiva na elaboração e
desenvolvimento do idealismo, na afirmação da própria identidade, sem que haja
a pressão ou autoritarismo dos genitores, antes oferecimento de meios para o
diálogo esclarecedor, sem a sujeição aos conselhos castradores e impositivos,
sempre de maus resultados.
Há uma tendência no jovem para fugir aos programas
elaborados, às experiências vividas por outrem, ao aproveitamento da sabedoria
dos mais antigos. Cada ser é uma realidade especial, que necessita vivenciar
suas próprias aspirações, muitas vezes equivocando-se para melhor compreender o
caminho por onde deve seguir. Em razão disso, experiência é uma conquista pessoal,
que cada qual aprende pelo próprio esforço, não raro, através de erros que são
corrigidos e insucessos que se fazem ultrapassados pelo êxito.
Quando alguém deseja impor seu ponto de vista, transfere
realização não lograda, para que o outro a consiga, assim alegrando aquele que
se lhe torna mentor.
A educação propõe e o educando aprende mediante o exercício,
a reflexão, o amadurecimento.
Os modelos devem ser silenciosos, falando mais pelos
exemplos, pela alegria de viver, pelos valores comprovados, ao invés das
palavras sonoras, mas cujas práticas demonstram o contrário.
Quando alguém convive com adolescente encontra-se sob a alça
de mira da sua acurada observação. Ele compara as atitudes com as palavras, o
comportamento cotidiano com os conteúdos filosóficos, não acreditando senão
naquilo que é demonstrado, jamais no que é proposto pelo verbo. Em razão disso,
surgem os conflitos domésticos, nos quais os genitores se dizem incompreendidos
e não seguidos, olvidando-se que são os responsáveis, até certo ponto, pelo
insucesso das suas proposições.
A identidade de cada um tem suas características pessoais, e
essas não podem, nem devem ser clones, nos quais se perde a individualidade.
A busca da identidade no adolescente é demorada, qual ocorre
com o indivíduo em si mesmo, prolongando-se pelo período da razão,
amadurecimento e velhice.
Por isso mesmo, nem sempre a avançada idade biológica é
sinônimo de sabedoria, de equilíbrio. Jovens há, maduros, enquanto idosos
existem que permanecem aprisionados na criança caprichosa e renitente da
infância não ultrapassada.
O idealismo brota do âmago do ser e deve ser cultivado pelos
genitores, que estimularão as tendências positivas do filho, oferecendo-lhe os
recursos emocionais e afetivos para que ele possa materializar a aspiração do
mundo íntimo. Quando se revelar a tendência para o idealismo perverso, o
desequilíbrio firmado no egoísmo, no capricho, nos desregramentos morais, é necessário
ensinar-lhe a técnica de como canalizar as energias para o lado melhor da vida,
propondo ideais práticos e mais imediatos, que sejam compensadores
psicologicamente, de forma que a eleição se opere com naturalidade, por meio da
substituição daqueles que são perturbadores por esses outros que são
satisfatórios.
Ao invés das lutas contínuas, que se fazem imposições
descabidas, enriquecidas de queixas e lamentações pelo investimento dirigido ao
filho, a quem se informa não saber aproveitar tudo quanto recebe, é justo que
todas as propostas sejam apresentadas de forma edificante, sem acusações nem
rejeições, mas com espírito de tolerância e compreensão, até que o
discernimento do adolescente aceite como fenômeno natural a contribuição, tendo
em mente que a escolha foi própria e que isso é bom para ele, não porque outros
assim o queiram, porém porque mais o conforta e o agrada.
A adolescência é ainda fase de amoldamento, de adaptação, ao
mesmo tempo de transformações, que merece e exige paciência e habilidade
psicológica.
De um lado, existe o interesse familiar, que trabalha para o
melhor do educando, mas por outra parte se encontra o grupo social, nem sempre
equilibrado, na escola, no clube, na rua, no trabalho, conspirando contra as
atitudes saudáveis que se deseja oferecer e que naturalmente atraem o
adolescente, porque ele gosta de ser igual aos demais, não chamar a atenção, ou
quando, em conflito, quer destacar-se, exibir-se, exatamente porque vive
inseguro, experimenta dramas, que mascara sob a desfaçatez, o cinismo
aparente...
Com o tranquilizar do fluxo sexual, mediante a reflexão e o
trabalho, através do estudo e das aspirações superiores que se devem ministrar
com cuidado, ele passa a identificar-se com o mundo, com as pessoas e por fim
com ele mesmo.
Essa auto-identificação é mais demorada, porque mais
profunda, prolongando-se por toda a existência bem orientada pelo dever e pelas
aspirações enobrecidas.
O idealismo torna-se-lhe um alimento que deve ser ingerido
com frequência, a fim de que não haja carência emocional e perda de identidade
no tumulto das propostas sociais, econômicas e artísticas...
Invariavelmente o espírito reencarna para dar prosseguimento
a tarefas que ficaram interrompidas, e ressurgem nos painéis mentais como
aspirações e tendências mais acentuadas.
Outras vezes, no entanto, deve começar a experimentar
atividades novas, mediante as quais progredirá no rumo da vida e de Deus.
Na fase da insegurança pela adolescência, toda a vigilância
é necessária, de modo a auxiliar o jovem a encontrar-se e a definir o seu ideal
de vida, entregando-se-lhe confiante e rico de perseverança até conseguir a
meta ambicionada.